Sexta
feira de um final de novembro de 1987. Reunião de Staff da Diretoria de
Recursos Humanos da Brastemp em São Bernardo do Campo, presentes todos os
gerentes divisionais e departamentais da área. Eu exercia, então, as funções de
Gerente do Departamento de Benefícios daquela unidade fabril. Tudo normal, tudo
tranquilo se ao final da reunião o Diretor Corporativo de RH do grupo
Brasmotor, holding da Brastemp, não tivesse pedido a atenção de todos os presentes
para com um problema que ele vinha enfrentando com a filial de Manaus.
Segundo
ele o Gerente de Divisão de Recursos Humanos da Multibrás da Amazônia não vinha
conseguindo resolver os problemas locais, com muitas paralisações e
movimentações sindicais e uma grande falta de motivação entre os colaboradores.
Isto estava prejudicando fortemente o clima organizacional, e a
produtividade. E por isto ele ligava praticamente todos os dias, reclamando e
pedindo ajuda.
E o
Diretor solicitou ao final que precisava de alguém com muita experiência,
principalmente na área sindicalista, boa comunicação e paciência para mandar
para Manaus. E tinha pressa porque queria viajar para o exterior no final do
ano e, se possível, com este problema resolvido.
Eu, que
nunca perdi uma oportunidade de crescimento profissional e que sempre fora
votado para desafios e aventuras, mal esperei o Diretor terminar, com medo que
outro gerente respondesse primeiro, levantei-me e disse muito seguro:
- Senhor,
eu tenho alguém para indicar, alguém pronto e preparado para grandes
empreitadas: Eu mesmo.
Prontamente,
o Diretor me questionou:
-
Gilberto, considerando você mora a cinco minutos da empresa, que sua esposa é
professora efetiva do Estado e leciona a três quadras de casa e, principalmente,
que você está muito bem aqui em São Bernardo, me dê dois motivos para que eu o
libere para Manaus.
Já
estando com a resposta na ponta da língua, afirmei com convicção:
- Senhor
Diretor, primeiro motivo: Serei promovido a Gerente de Divisão, com direito a
Bônus Plan, carro designado, plano de benefícios melhor e, evidentemente, um
aumento salarial. Segundo motivo: Se o senhor ligar para minha esposa agora e
contar da minha decisão, ela vai perguntar se já pode começar a preparar a
mudança.
Neste momento,
meu companheiro e amigo Lemos disse ao diretor:
- Não
perca seu tempo, senhor, conheço a esposa dele e ele fala exatamente a verdade.
O
Diretor, com fisionomia mais alegre me disse então:
- Vá
agora até Agência de Turismo (interna à Empresa) mande emitir duas passagens
para Manaus, para você e sua esposa, e parta amanhã de manhã. Fique por lá uma
semana, veja tudo, da Empresa e da cidade, e na volta, diga se ainda está
disposto a mudar.
Em 1o.
de janeiro de 1988 assumi o cargo em Manaus, onde deveria ficar por dois anos
mas tive que ficar mais oito meses até que surgisse uma vaga na grande São
Paulo, o que não foi muito fácil porque em 1990 todas as empresas passavam por
um achatamento em suas estruturas.
Durante o
tempo em que lá permaneci, aproximei-me dos líderes sindicais, melhorei
sensivelmente os canais de comunicação e praticamente eliminei as paralisações
e movimentos sindicais. Além disto, implantei planos de treinamento e
desenvolvimento, principalmente para gerências e Chefias, implantei projetos
motivacionais, especialmente na área de esportes e lazer que eu já tinha
experiência dos bons resultados na quebra de conflitos internos e aproximação
entre supervisores e subordinados. E nos dois anos e oito meses que lá fiquei
em nenhuma oportunidade liguei para o Diretor, nem para reclamar, nem para
buscar elogios já que sempre tive na mente que aquilo era minha obrigação. Eu
só tinha ido para tão longe para resolver os problemas.
Muito
bem, para voltar tive que aceitar um cargo numa outra unidade fabril, recém
comprada e falida, já com planos de desativação. Na primeira vez que me
encontrei com o Diretor que aprovou minha ida para o Amazonas, ele disse:
- Você
teve sorte. Durante todo o tempo que você ficou em Manaus nada de grave
aconteceu. Parabéns.
Dias
depois, conversando com meu amigo Lemos, relatei os fatos de lá e a fala do
Diretor e foi então que ele me contou o caso do “Silêncio da pata”,
perguntando-me:
- Você já
reparou que a pata bota um ovo enorme e muito mais rico que o ovo da galinha
mas ninguém dá valor ao ovo da pata. E ele mesmo respondeu. É que a galinha faz
uma festa enorme quando bota um ovo e chama a atenção de todos, enquanto a pata
bota quietinha, lá num canto, e ninguém nem percebe. Ora, Gilberto, enquanto em
Manaus, a cada projeto bem-sucedido, a cada ocorrência vencedora, a cada
solução de problema ou conflito, você deveria publicar, mandar registros para
todos os gerentes locais e gerais, principalmente para nosso Diretor
Corporativo.
Não só o
entendi como concordei.
Isto foi
há vinte e cinco anos, mas nunca esqueci e divulguei durante muito tempo,
principalmente para meus alunos de Administração.